Escrituras em pedra, pergaminho,
imprensa, publicação em livros, internet... saberes que deixaram de existir
somente no papel, estão também na tela, no mundo diverso e flutuante
das novas tecnologias.
Conhecimento que se transforma,
desconstrói, reinventa e que deixa a materialidade física e ganha a
virtualidade; conhecimento que muda de lugar, que não é mais de uma única
fonte, mas pode ser produzido, alterado por mim ou por você, por qualquer um;
conhecimento que outrora podia ser guardado no armário, e que hoje está no
mundo, no universo da mobilidade, da profusão, da ubiquidade.
Quantas transformações ocorreram... mas
parece que foi ontem! É que apesar do relógio continuar o mesmo, os ponteiros
do tempo parecem correr apressadamente, e a cada segundo surgem inovações.
Ainda assim, me resta a lembrança de minha relação com o conhecimento
enciclopédico, no qual a riqueza e a diversidade do mundo estavam impressos nos
volumes da Barsa, ou dos almanaques, como o Lunário Perpétuo. Fontes valiosas
não apenas para os estudos, também um caleidoscópio pela qual eu podia ver e
conhecer o Outro, outros países, outras culturas, outras vivências e também
pude me conhecer, estudando a anatomia e o funcionamento do corpo humano e de
minha cultura.
Nessa volta no tempo, meu trabalho é
também uma releitura de retratos pintados, técnica tradicional que caiu em
desuso, mas que ainda persiste como relicário, como espaço da memória e da
subjetividade. Assim, compreendo que sou agente fundamental nessa relação entre
o eu e o Outro.
Tão cômodo separar esses dois lugares,
instituir esse distanciamento, porém eu não me conheço sem o Outro, eu não sei
eu sem o Outro. Como destaca Bakhtin, eu sou inacabado, é o Outro que me completa,
que me constitui, pois tudo que me diz respeito a começar pelo meu nome vem de
fora, vem da boca dos Outros.
Compreendo que assim como as
enciclopédias impressas, também os retratos pintados caíram em desuso,
adormeceram no tempo. E ao remexer esse baú de histórias e memórias, me deparo
com o sonho, com a imensidão íntima, como relembra Bachelard. Imensidão, que é
um mergulho não apenas em mim, mas também no Outro, nos Outros e que pode estar
também na casa, na sala ou no quarto, nos cantos e frestas, nos espaços
infinitos.
Dalton
Paula
Retrato
Silenciado
28,5
cm (vertical) x 220 cm (horizontal)
Óleo
sobre livro
Instalação
Foto:
François Calil
2010
Dalton
Paula
Retrato
Silenciado
Detalhe
1
Óleo
sobre livro
Instalação
Foto:
François Calil
2010
Dalton
Paula
Retrato
Silenciado
Detalhe
2
Óleo
sobre livro
Instalação
Foto:
François Calil
2010
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