6 de mai. de 2012

Transeuntes


Sentar por não poder dar passos, sentar para poder descansar, andar para acessar, conforto no caminhar, honra, respeitabilidade, autoridade.

Na trajetória da vida é comum nos depararmos com obstáculos, estereótipos e preconceitos. Neste sentido o trabalho coloca algumas questões que articulam as possibilidades e as escolhas que envolvem o ato de andar (Onde quero ir? Onde posso ir? Onde devo ir?) e também traz reflexões sobre o desconstruir e o reconstruir por meio da capacidade de apropriar-se, literalmente e de maneira subjetiva, através do modo como foi feita a obra utilizando-se de peças como os coturnos, as botas e a cadeira de rodas, objetos que compõem a obra.

A cadeira de rodas simboliza a privação do andar com as próprias pernas e, neste caso, remete ainda aos portadores de necessidades especiais, enfermos e traumatizados que tem limitados seus direitos de acesso, de ir e vir, e assim também de uma visibilidade com respeito, o que afeta diretamente sua auto-estima.

Já o coturno, por outro lado, é uma espécie de calçado que possui uma carga simbólica que indica alta dignidade. Era normalmente utilizado por deuses, semideuses e heróis lendários e hoje se configura um ícone militar, que representa coerção e segurança, mas também é ressignificado, visto que assume entre os jovens um caráter transgressor.

Esses dois objetos e seus múltiplos sentidos se juntam, dialogando nesta obra. Também em relação à cor, o preto, que dá mais densidade ao tema, não mascara as manchas, oferece nuances, brilho e opacidade. Porém, o elemento fundamental para que a obra se faça, tenha significado, é a figura e interação com o transeunte, a pessoa que passa atrasada para um compromisso, o aposentado que joga xadrez no banco da praça ou a criança que toma seu banho de sol matinal.

Nesta proposta de reflexão, o eu se faz presente na obra, pois os materiais utilizados na composição dos objetos estão intimamente ligados ao cotidiano do artista, o coturno no plano real, pois faz parte de seu cotidiano profissional como bombeiro; e a cadeira de rodas em sua compreensão simbólica e pessoal. Desta forma, por meio da obra, o eu do artista se relaciona com o eu do outro, o do transeunte. 

Dalton Paula
"São as cadeiras que andam - 01"
Mista (Uso de tinta a óleo, graxa e tinta para couro sobre superfície composta de coturnos)
119 cm de diâmetro
Foto: François Calil
2009 



Dalton Paula
"São as cadeiras que andam - 01"
Detalhe




 Dalton Paula
"São as cadeiras que andam - 02"
Mista (Uso de tinta para couro em superfície sintética sobre solados de coturnos)
117 x 30 cm
Foto: François Calil
2009



 Dalton Paula
"São as cadeiras que andam - 02"
Detalhe




Dalton Paula
"São as cadeiras que andam - 03"
Cadarço sobre solo
137 x 100 cm
Foto: François Calil
2009


Um comentário:

  1. Muito interessante o seu trabalho, gostei muito do matrimônio!
    Vamos combinar de encontrar pra conversarmos sobre a tradução.
    Abraço, Diogo

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