Sentar por
não poder dar passos, sentar para poder descansar, andar para acessar, conforto
no caminhar, honra, respeitabilidade, autoridade.
Na
trajetória da vida é comum nos depararmos com obstáculos, estereótipos e
preconceitos. Neste sentido o trabalho coloca algumas questões que articulam as
possibilidades e as escolhas que envolvem o ato de andar (Onde quero ir? Onde
posso ir? Onde devo ir?) e também traz reflexões sobre o desconstruir e o reconstruir
por meio da capacidade de apropriar-se, literalmente e de maneira subjetiva,
através do modo como foi feita a obra utilizando-se de peças como os coturnos,
as botas e a cadeira de rodas, objetos que compõem a obra.
A cadeira
de rodas simboliza a privação do andar com as próprias pernas e, neste caso,
remete ainda aos portadores de necessidades especiais, enfermos e traumatizados
que tem limitados seus direitos de acesso, de ir e vir, e assim também de uma
visibilidade com respeito, o que afeta diretamente sua auto-estima.
Já o coturno,
por outro lado, é uma espécie de calçado que possui uma carga simbólica que
indica alta dignidade. Era normalmente utilizado por deuses, semideuses e
heróis lendários e hoje se configura um ícone militar, que representa coerção e
segurança, mas também é ressignificado, visto que assume entre os jovens um
caráter transgressor.
Esses dois
objetos e seus múltiplos sentidos se juntam, dialogando nesta obra. Também em
relação à cor, o preto, que dá mais densidade ao tema, não mascara as manchas, oferece
nuances, brilho e opacidade. Porém, o elemento fundamental para que a obra se
faça, tenha significado, é a figura e interação com o transeunte, a pessoa que
passa atrasada para um compromisso, o aposentado que joga xadrez no banco da
praça ou a criança que toma seu banho de sol matinal.
Nesta
proposta de reflexão, o eu se faz presente na obra, pois os materiais
utilizados na composição dos objetos estão intimamente ligados ao cotidiano do
artista, o coturno no plano real, pois faz parte de seu cotidiano profissional
como bombeiro; e a cadeira de rodas em sua compreensão simbólica e pessoal.
Desta forma, por meio da obra, o eu do artista se relaciona com o eu do outro,
o do transeunte.
Dalton
Paula
"São
as cadeiras que andam - 01"
Mista (Uso
de tinta a óleo, graxa e tinta para couro sobre superfície composta de
coturnos)
119 cm de
diâmetro
Foto:
François Calil
2009
Dalton Paula
"São as cadeiras que andam - 01"
Detalhe
Dalton
Paula
"São
as cadeiras que andam - 02"
Mista (Uso
de tinta para couro em superfície sintética sobre solados de coturnos)
117 x 30 cm
Foto:
François Calil
2009
Dalton Paula
"São as cadeiras que andam - 02"
Detalhe
Dalton
Paula
"São
as cadeiras que andam - 03"
Cadarço
sobre solo
137 x 100
cm
Foto:
François Calil
2009
Muito interessante o seu trabalho, gostei muito do matrimônio!
ResponderExcluirVamos combinar de encontrar pra conversarmos sobre a tradução.
Abraço, Diogo