Apresento
aqui um pouco da experiência do que foi fazer a performance, e a vinculo com
elementos que constantemente perpassam as séries, reforçando algumas ideias e
questões já abordadas, o que tem me possibilitado um amadurecimento, e uma
maior compreensão dos conceitos e do próprio trabalho em si, que considero
ainda em processo. Na performance, são explorados objetos que são símbolos,
apresentam códigos sociais na vivência cotidiana. Remetem às pessoas que as
utilizam e os papéis sociais que elas ocupam, bem com aos lugares para os quais
são destinados e dessa forma, também suas cargas simbólicas. Tais objetos são
deslocados e levados a um jogo metafórico para propor questões, uma tentativa
de abstrair aspectos críticos dos temas propostos.
Em suas
reflexões sobre o propósito da arte, Cohen (2011) questiona se ela deve
representar o real, recriá-lo ou criar outras realidades. E nesse contexto, o
autor indica que a performance acaba atingindo novas situações e percursos,
tênues limites que separam a vida da arte. E deste modo, ele situa essa
linguagem em um âmbito mais amplo, numa maneira de encarar a arte, de vê-la
numa constante procura por se aproximar da vida, e assim também do que é
espontâneo e natural, constituindo o live
art:
“um
movimento de ruptura que visa dessacralizar a arte, tirando-a de sua função
meramente estética, elitista. A idéia de resgatar a característica ritual da
arte, tirando-a de “espaços mortos”, como museus, galerias, teatros, e
colocando-a numa posição “viva”, modificadora” (COHEN, 2011, p.38).
Também
abordo a perfomance nesse sentido, pois a relaciono com minha vontade e os
caminhos do trabalho para direcionar as ações, no intuito de buscar na
realidade, aquilo que ela tem de mais pulsante, e que seja capaz de fugir da
representação tradicional.
Na
performance, parto do “Corpo Silenciado”, com o muro e sua natureza pictórica,
e adiciono novos elementos: uma bolsa feminina preta, um cassetete policial,
uma calça social marrom, uma botina bege e uma venda preta nos olhos. Em tal
cenário, coloco o corpo em ação, elaboro uma metáfora da pinhata (em espanhol,
“piñata”), uma brincadeira tradicionalmente popular no México. Constituída por
um recipiente normalmente de cerâmica envolto por papel crepom, ela pode ter
inúmeras formas, em especial a estrela de sete pontas, e também personagens de
desenho animado. Tal objeto, que é preenchido com doces e guloseimas, fica
suspenso no ar, numa altura média de 2 metros; e o jogador, de olhos vendados
tenta acertá-lo com um porrete, espalhando os doces por todo o local. Apesar de
ser mais comum entre crianças, adolescentes e adultos também participam desse
jogo, que no Brasil é conhecido como quebra-panela ou quebra pote. Normalmente
no tradicional sábado de aleluia, também fazemos uma brincadeira semelhante, a
malhação do Judas, na qual se suspende um boneco em tamanho aproximado ao corpo
humano, que é esbofeteado, desfigurado, e até mesmo queimado.
Em “O
Batedor de Bolsa” trabalho com o cassetete e a bolsa como extensões do corpo,
do eu e do outro, prolongamento simbólico, material e subjetivo do desejo,
imaginações, ações e reações do corpo na vida cotidiana.
Nesse
sentido, faço uma analogia entre essa relação com a alteridade e uma ampulheta,
que aqui possui em seu interior não apenas areia, mas também o eu e o outro, e
com o transcorrer do tempo, senti-me sufocado, soterrado pela areia, que simboliza
todas essas ações vivenciadas no cotidiano e com as pessoas. No entanto, como
uma reação a tudo isso, tal corpo precisa ser “virado”, para assim como essa
ampulheta imaginária, que recomeça a registrar novamente o tempo, ele possa
reagir, se renovar.
COHEN, Renato. Performance
como linguagem. 3 ed. São Paulo: Perspectiva, 2011. 256 p.
*Este texto faz parte do trabalho de conclusão de curso
"Corpo Silenciado".
Leia-o na íntegra: http://issuu.com/daltonpaula/docs/corpo_silenciado_dalton_paula
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